quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Recordando.

Francisco Sá Carneiro
Nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934.
Morreu em Lisboa a 4 de Dezembro de 1980.

Confesso que se não tivesse assistido ao noticiário desta noite nem me lembrava que se completam hoje 28 anos depois do desaparecimento trágico daquele que foi o principal fundador do então PPD/PSD.

Como há muito me desliguei das questões da "partidarite", engrossando dessa forma a maioria dos portugueses desiludidos da politica que se vive e pratica nos dias de hoje, seria até desculpável que a data que agora se assinala me passasse ao lado.

Ainda na sexta-feira passada durante o jantar da Tertúlia e para quem como eu tenha estado sentado próximo do Álvaro Viegas, teve a oportunidade de recordar como há 28 anos atrás, neste mesmo dia, se organizaram na Escola Secundária de Loulé as primeiras manifestações juvenis.

Vivia-se na altura um período muito mais calmo depois do regabofe verificado cinco anos antes durante o chamado verão quente de 1975.

Eu e alguns dos que comigo fazem parte desta Tertúlia estávamos ainda em idade escolar no ensino secundário.

Na então Escola Secundária de Loulé, jovens como eu, o Álvaro, o Zé Leal, o David Neves, o Ivo Agostinho, o Paulo Marum, o Vitor Sousa entre muitos outros de que agora não me recordo e por isso me desculpo, dirigiamos à época a Associação de Estudantes legitimamente eleita por sufrágio directo no universo estudantil daquele estabelecimento de ensino, após "duras" campanhas eleitorais com aqueles que se nos opunham.

Para que melhor percebam, digamos que se tratavam de campanhas eleitorais onde tudo se fazia à custa do esforço de braços, com muito maior vigôr, empenho e sem o marketing e a "xulice" a que se assiste nos dias de hoje em que a maioria dos candidatos aos "tachos" nunca vergaram a mola porque existem empresas que contratadas a peso de ouro, fazem o trabalho duro por eles.

Travavam-se animados "combates" entre o PPD/PSD, o PS e o PCP dos "pequeninos" pela liderança dos estudantes de um estabelecimento de ensino, com campanhas pagas pelos dinheiros dos "pais" partidários locais.

Na altura o liceu como então o denominávamos, era dirigido por docentes por nós considerados "perigosos comunas"* cujos nomes não importa agora destacar porque tenho hoje por uma boa parte deles uma certa estima.

O acidente/atentado ocorreu durante a noite, mais ou menos à hora do noticiário das oito e na manhã do dia seguinte, bem cedo e sob a liderança do Presidente da A.E. - Álvaro Viegas, à época considerado o grande timoneiro na versão alaranjada (LOL) entre os jotas pêpêdês onde me incluía, tratou logo de organizar uma acção que impedisse a realização de aulas nesse dia.

Para além disso e o Álvaro ou outros melhor me ajudarão porque não quero que alguma falha de minha memória traia a verdade dos factos (LOL), entendeu e por bem fazer baixar a bandeira nacional a meia-haste só que onde esta se deveria encontrar nesse como em qualquer outro dia num estabelecimento público, apenas restava o ferro (estandarte).

Não sei (porque não me lembro) mas por artes mágicas talvez, a bandeira logo apareceu e para a fazer içar também surgiu a preciosa ajuda da viatura-escada "magirus" dos Bombeiros Municipais de Loulé, já na altura excelentemente comandados pelo Sr. Carlos Leal, tio do nosso tertuliante José.

Naquele dia a ESL ficou virada ao contrário, parecia um novo 25 de Abril e como seria de prever (ou talvez não) vieram depois as consequências para os jovens "agitadores".

Uns processos disciplinares (de que me livrei, ainda hoje estou para saber como se nem cunha utilizei :D) sobre alguns dos meus companheiros de "luta" e uma "conveniente" expulsão escolar do "cérebro" dirigente daquela manifestação.

Apesar de tudo, viveram-se grandes tempos e recordo-os sempre com uma saudade imensa.

Quando hoje olho para as campanhas eleitorais que se fazem e sobretudo para os politicos nacionais, regionais e mesmo locais (cala-te boca!) não posso deixar de pensar no descolorido em que se tornou o País.

Por isso e recordando as principais lideranças do PSD que se seguiram a Sá Carneiro, exceptuando o período de grande estabilidade do partido durante o consulado de Cavaco Silva, olho e vejo líderes como o fugitivo Durão Barroso, o fogoso Santana Lopes, a alimária Luis Filipe Menezes e mesmo com a respeitável Manuela Ferreira Leite, cada vez me convenço mais que o "desgraçado" fundador ainda hoje não parou de dar voltas no túmulo.

Mais certo será pensar que aquilo deve parecer um carrocel, com o devido respeito.

Agora fico à espera que quem tenha vivido essa época possa acrescentar algo ou mesmo corrigir o que aqui escrevi, através dos respectivos comentários.

Joaquim Leal

* Era esta a linguagem que se utilizava numa época em que eu e muitos outros acreditávamos religiosamente que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço. :P

Nota: Foto retirada do "site" do Partido Social Democrata.


Testemunhos

Bons e velhos tempos esses de luta por amor á camisola.
Vou precisar o que realmente aconteceu.
Logo na noite da morte de Sá Carneiro, Freitas do Amaral decretou o encerramento das escolas decretando 3 dias de luto nacional.
Qual foi o meu espanto quando no dia seguinte cheguei à Escola, tudo estava a funcionar como se nada tivesse acontecido e a bandeira não estava colocada a meia haste, dado que tinha morrido o primeiro-ministro.
Procurei pela bandeira no Conselho Directivo e esta como por magia tinha desaparecido.
Fui à sede do PSD buscar a bandeira, pedi aos Bombeiros para lá irem com a escadas magiruis e coloquei a bandeira a meia-haste.
Depois convocou-se uma reunião na sala de convivio e decidiu-se que não haveria aulas nesse dia, cantando depis o hino nacional. Acto arrepiante, centenas de alunos a cantarem o hino nacional.
Claro que o conselho directivo vendo que tinha perdido o controle da escola pediu-nos que fizessemos que os alunos voltassem ás aulas. Assim o fizemos no dia seguinte, com a exigência de eles nos pagaram a desclocação ao funeral de Sá carneiro e uma coroa de flores que colocámos no Mosteiro dos jerónimos.
Foi realmente uma demonstração de força, bem diferente de hoje, nada de bagunça, falta de respeito, nem pancadaria. Foi uma acção coordenada e demonstrativa de uma grande força estudantil.
Enfim, 28 anos depois é com saudade que lembro esses tempos.

Álvaro Viegas


É com enorme satisfação, que os meus colegas tertuliantes e companheiros de muitas lutas saudáveis, me recordaram momentos muito felizes da minha vida, momentos esses que ficam para sempre e com mais ou menos promenor, nunca serão esquecidos.
A Morte de Francisco Sá Carneiro, Homem com H grande, que comparado com esses politicos de hoje, que ficam a Quilómetros de Distância, tanto a nivel de carácter, atitude e postura na Vida, marcou uma geração, que no fundo é um pouco da nossa tertulia, e hoje tudo seria diferente se não o tivessem assassinado.
Era pequeno no tamanho, mas enorme como ser Humano, com uma visão de futuro que marcava a diferença.

José Leal

Ora viva,

Ao contrário de velhos como vocês, na altura eu tinha somente 12 anos, mas com consciência politica e também já sabia distinguir o bom do mal, por isso optei por um partido democrático como o PS.

Recordo-me perfeitamente dessa noite fatídica, o meu falecido pai, também ele militante do PS e mais 3 camaradas passaram boa parte da noite na sede do PSD. Sorrateiramente escapei-me do conforto familiar e também dirigi-me a sede do PSD que era numa casa térrea na avenida José da Costa Mealha, onde hoje existe as galerias Dona Leonor. Recordo-me de passar horas pela madrugada adentro ouvido a rádio (televisão haviam poucas e a que estava por lá, estava numa sala pequena apinhada de gente). Na época existia verdadeira camaradagem mesmo entre os adversários políticos. Tenho saudades desses tempos.

Do liceu recordo-me vagamente do sururu que o álvaro, davide, karim e mais uns quantos fizeram por causa do hastear da bandeira e estava eu e o João Madeira (amigo infelizmente já falecido) a observar a discussão que esteve feia. De facto o PCP controlava indirectamente os conselhos directivos das escolas. Continuam a controlar à mesma nos nossos dias, mas com uma distância ainda maior, como se vê.

Pessoalmente continuo a admirar o Homem e o politico que foi Francisco de Sá Carneiro, um visionário para a época, que gostava de referir-se ao seu partido como o PPD. Hoje, o hino, a cor e o símbolo são os mesmos, mas a acção dos seus líderes fica a anos-luz da do seu fundador. Este homem fazia falta ao País.

Paulo Àmen