terça-feira, 5 de agosto de 2008

Uma opinião inoportuna?

MÁRIO SOARES (in Diário de Noticias - 04.08.2008)

Não parece ter sido muito feliz a intervenção, feita com pompa e circunstância, através das televisões, pelo sr. Presidente da República, no último dia de Julho passado, quando a maioria dos portugueses se preparava para ir de férias, procurando esquecer, por um mês, os problemas graves e complexos que os esperam no regresso.
Não porque o tema que levantou não tenha pertinência e não seja uma preocupação legítima que lhe respeita. Mas pelas expectativas criadas e pelo momento e a forma que escolheu para o transmitir aos portugueses. Quando tudo vai depender da maneira como os deputados o irão debater - e tentar resolver - quando a Assembleia da República voltar a reunir-se, depois de férias.
A questão que o Presidente levantou é de natureza político-constitucional e, na fase em que se encontra, cabe ao Parlamento agora pronunciar-se e não aos portugueses em geral. É por isso que vivemos em democracia representativa e num Estado de direito. E ao Presidente da República cabe a última palavra, quando tiver de homologar ou não o Estatuto.
Por isso terá sido inoportuna - no tempo e na forma como a fez - a comunicação do Presidente da República.

Quando os portugueses comuns estão preocupados - talvez mesmo angustiados - com outras questões, bem mais importantes, para eles, sejam continentais ou insulares: o custo de vida, a subir de forma exponencial; a crise energética e os seus efeitos nas bolsas de todos nós e nas empresas; a crise financeira, que afecta directamente todos os que têm acções na bolsa e, indirectamente, os que as não têm; o desemprego, que está a crescer não só em Portugal como na nossa vizinha Espanha, o que também nos afecta, a prazo; o escândalo da corrupção, que alastra por todo o espaço europeu e, entre nós, quando se corre o risco de suspender e arquivar os processos que resultaram da chamada "Operação Furacão", do "Apito Dourado" e outros (o que seria um escândalo e contribuiria para o descrédito definitivo da justiça portuguesa); a paralisia e crise em que está mergulhada a União Europeia - e nós com ela -, que tanto nos toca, quer queiramos quer não; a "bolha" do imobiliário, que de Espanha se repercutiu em Portugal; e tantos outros problemas que os portugueses sentem na carne.

Ora, sobre tudo isto, o sr. Presidente tem-se referido sempre de fugida, muito discretamente, em breves respostas a perguntas circunstanciais que lhe fazem. Mas nunca fez um discurso de fundo. Não para pôr em causa a famosa cooperação estratégica com o Governo - que os portugueses têm, na sua maioria, apreciado -, mas para dar a conhecer o seu pensamento, aos portugueses, e indicar um rumo de esperança, quanto ao futuro.

Era isso, julgo, que todos esperavam quando foi anunciada uma "importante" comunicação do Presidente aos portugueses. Daí a frustração que se seguiu à comunicação do Presidente, que a maioria não terá sequer compreendido. Uma frustração que não deve repetir-se...

(...)


Eu penso que sim, uma opinião bastante inoportuna e desviante.

O Dr. Mário Soares, pessoa que desde os meus tempos de juventude nunca me granjeou grande simpatia (guardo gratas recordações de combate político :P), mesmo que considerado por muitos/alguns como o "pai da Democracia em Portugal" e que já deveria há tempos preocupar-se apenas com o descanso de uma boa reforma, veio agora pela "milésima" vez opinar de forma venenosa sobre questões nacionais como se os destinos da Pátria a ele exclusivamente pertencessem.

No texto que reproduzo e de que destaquei as frases mais importantes - é pelo menos essa a minha opinião, são muito esclarecedoras do inoportunismo e do desvio da sua intervenção.

O Dr. Soares teria adorado que o Presidente Silva, às 20.00 horas desse dia, tivesse criado um facto politico trágico bem ao seu gosto, como apresentar a sua demissão ou demitir o governo, dando dessa forma razão para o falatório & regabofe nacional.

O que o senhor Presidente da Republica disse e eu percebi muito bem porque ao contrário do que no seu texto claramente insinua, sou português mas não sou estúpido, mais não é do que um valente puxão de orelhas ao 1º Ministro e a todos os deputados da Assembleia da Republica, incluindo os do seu partido.

O assunto é suficientemente importante porque quebra a autoridade dos principais cargos do Estado em favor de uma região autónoma constituída por 9 maravilhosas ilhas mas que de contributo produtivo para o resto do País representa um pouco mais que queijos e amanteigados

No texto e sem ser preciso ler nas suas entre-linhas é interessante a forma como o Dr. Soares por um lado "dá no cravo" ao enunciar as reais aflições que os portugueses sentem na actualidade enquanto que por outro "malha na ferradura" desviando a culpa de todos os males para a conjuntura internacional.

Como com as dores dos outros posso eu bem, seria pedir muito que este senhor se resguarde à reserva e deixe os outros trabalhar?

Ou melhor ainda:

Porque no te callas?

Joaquim Leal